No âmbito do Ano Jubilar da Misericórdia que
estamos a viver, o Papa Francisco decidiu, no passado mês de Julho,
elevar, no Calendário Geral da Igreja Católica Romana, a Memória de
Santa Maria Madalena a Festa, por forma a ela ter no calendário o mesmo
nível dos outros Apóstolos. Com efeito, ela é considerada "Apóstola dos
Apóstolos", pois além de ter estado muito próxima de Jesus, durante a
vida, ela foi também a primeira a dar-se conta de que Cristo tinha
ressuscitado dos mortos e a dar a notícia aos outros Apóstolos. O dia 22
de Julho será, assim, Festa de Santa Maria Madalena.
No ano 2000, na sequência da guerra de 1998 na Guiné-Bissau, o Bispo
de Bissau pediu a Filomeno Lopes ajudar no processo de reconciliação,
mesmo com uma canção que pudesse passar na rádio e animar as pessoas
neste sentido. A ideia inicial era servir-se da figura da Virgem Maria,
para, em analogia ao "Bambaran" (pano materno muito usado na Guiné)
recordar a todos que somos filhos da mesma mãe e há que viver como
irmãos. Mas tendo em conta que durante a guerra muitas mulheres foram,
por vezes, obrigadas a prostituir-se com o inimigo para salvar a vida a
muitos familiares, achou que a figura de Santa Maria Madalena era mais
adequada. Nasceu assim a canção "Djorçon de Madalena", para sublinhar a
responsabilidade de todos na sociedade. Uma canção em que tentou evitar
uma certa visão, então dominante, de Mariologia. Tentou igualmente unir o
aspecto religioso às teorias e acções de Amílcar Cabral que permitiram
às populações da Guiné-Bissau e Cabo Verde unir-se para combater o mal
colonial e chegar à independência.
Quanto à decisão do Papa de elevar a Memória de Santa Maria Madalena a
Festa litúrgica, Filomeno considera que se trata de um gesto corajoso
da parte de Francisco e que abre caminho para uma reflexão teológica
mais centrada no feminino. É que ao longo dos anos houve a tendência a
considerar tudo numa óptica patriarcal, esquecendo o feminino na
História.
Mas -
sublinha ainda Filomeno - Misericórdia significa justiça e isto implica
justiça em relação à mulher, corrigindo os males que lhe têm sido
infligidos por ser mulher.
Aprecie essa bela e rítmica canção, cantada pelo Filomeno e pela
Cecília Monteiro, num crioulo genuíno da Guiné-Bissau, e os pormenores
da ideia que está na base da sua composição. É na rubrica "África. Vozes
Femininas" desta semana, dedicada a Santa Maria Madalena, modelo de
diálogo e reconciliação para o mundo de hoje.
Sem comentários:
Enviar um comentário