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quinta-feira, 1 de junho de 2017

NOTICIAS AO MINUTO:UMA SEMANA APÓS ULTIMATO DA CEDEAO, O SILÊNCIO

CEDEAO, o silêncio

Para Dautarin Costa, os problemas do país "só podem ser resolvidos pelos guineenses". O sociólogo critica a atuação da CEDEAO, as declarações de Sissoco e alerta para a situação limite em que vive a população.
Dautarin Costa (Privat)
Numa altura em que completou uma semana após o termo do ultimato da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) à Guiné-Bissau e cuja situação de crise política e institucional tende a perdurar, um grupo de sete partidos políticos guineenses enviou à presidência da CEDEAO uma carta a solicitar "medidas claras de impacto imediato” para acabar com a crise na Guiné-Bissau.
Na carta divulgada, esta quarta feira (31.05), à imprensa em Bissau, os sete partidos políticos dizem que acreditam que, "perante os riscos e ameaças que impendem sobre a Guiné-Bissau, os chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, que estarão reunidos no próximo domingo (03.06) em Monróvia, capital da Libéria, deverão tomar "medidas claras de impacto imediato” para evitar que a sub-região tenha outro "foco de crise de consequências imprevisíveis”.
Dautarin Costa, sociólogo guineense, entrevistado pela DW África, afirma que tem algumas expetativas sobre o que poderá sair desta cimeira porque a CEDEAO chegou a um ponto de não retorno. "Qualquer coisa que saia de lá, vai jogar com a credibilidade da própria CEDEAO. E aquilo que exigimos é que os governos sejam muito concretos, muito explícitos com o ultimato que não foi cumprido", afirma o sociólogo, mostrando ter algumas dúvidas quanto ao desfecho da situação. "Creio que existe esta sensibilidade, mas fico com um pé atrás porque com a CEDEAO nunca se sabe. Eu estou numa lógica de ver para crer se a CEDEAO vai finalmente assumir-se como uma potência organizacional a nível da sub-região que, de facto, promove a paz, a democracia e condições de governabilidade e estabilidade".
Comunidade internacional "descredibilizada"
Segundo Costa, a comunidade internacional está, neste momento, "completamente descredibilizada na Guiné-Bissau". O povo, afirma o sociólogo, "acredita que os problemas do país só podem ser resolvidos pelos guineenses e que a comunidade internacional está aqui numa lógica de quase turismo diplomático ou de jogo de xadrez muito dúbio, o que não resolve os problemas".
Em relação ao ultimato da CEDEAO, cujo prazo expirou há uma semana (25 .05.), e até agora a situação continua na mesma, o sociólogo guineense afirma que a comunidade internacional teve sempre uma postura diferente em relação à Guiné-Bissau quando comparada com situações semelhantes em outras paragens africanas. Dautarin Costa lembra o caso da Gâmbia, onde o problema foi resolvido rapidamente. "Aqui na Guiné há sempre posições dúbias no que diz respeito à intervenção da comunidade internacional e a situação atual não dá espaço para intervenções dúbias", assevera o sociólogo, acrescentando que o "que está em causa é a credibilidade, não só da CEDEAO, mas de toda a comunidade internacional que tem intervido nesta crise". "Não falamos só da CEDEAO, temos aqui as Nações Unidas, a União Africana, a CPLP, uma espécie de consórcio da comunidade internacional que joga aqui uma cartada fundamental em termos da sua credibilidade", afirma.
Para o sociólogo, importa ressalvar que estamos perante "um momento histórico" que "a comunidade internacional poderia aproveitar como um espaço de verdadeira concentração democrática".
Dautarin Costa acrescenta ainda que toda esta situação de crise e instabilidade que se vive no seu país, é, em grande parte, da responsabilidade do Presidente José Mário Vaz. A seu ver, a sua presidência "é falhada", uma vez que este tinha "um mandato muito simples e não conseguiu cumprir". "Devia promover a união dos guineenses e o reforço das instituições, garantir que a constituição era cumprida e  a estabilidade governativa. Não só não criou a estabilidade governativa, como criou todas as condições com precedentes perigosos para o nosso futuro enquanto nação e desestabilização que vai ultrapassar claramente o mandato dele", afirma.
População "no limite"
Embora não seja uma novidade, Dautarin  Costa diz que, como sociólogo,  tem seguido com muita atenção e preocupação a situação de impasse em que se encontra a população guineense. "É um filme que já vimos antes e as pessoas estão a temer o pior. Não se fala noutra coisa, há um clima de grande crispação entre as pessoas, portanto há uma grande expetativa com o que vai acontecer nos próximos dias, porque estamos numa situação claramente de limite", conta.
Guinea-Bissau Umaro Sissoco (DW/B. Darame)
Umaro Sissoco, primeiro-ministro da Guiné-Bissau
Críticas a Sissoco
Já no fim da entrevista, Dautarin da Costa considerou preocupantes as declarações feitas na quarta-feira(31.05) pelo primeiro-ministro guineense, Umaro Sissoco Embaló, que exortou a polícia a usar "qualquer método, que achar conveniente” para restaurar a dignidade do Estado e não permitir a anarquia no país. Segundo Costa, "a dignidade do Estado existe em função de um Estado que promove condições de desenvolvimento humano para o seu povo. Então um Estado nunca pode ser digno se agride o seu povo quando este tenta exercer o seu direito constitucional de se manifestar", dá conta o sociólogo.
Dautarin Da Costa relembra que esta é uma "situação extremamente grave" e que as pessoas já vivem em crise há cerca de dois anos. "As pessoas não têm horizonte e têm o direito de exigir ao Estado que crie as condições fundamentais  para que a existência delas melhore. E quando um primeiro-ministro, que se diz representante de um país, se apresenta desta forma dizendo que a credibilidade do Estado é exercida através da violéncia não só revela infantilismo político mas revela total desconhecimento do que é um Estado realmente construtor e promotor do desenvolvimento. Isso mostra-nos que não temos gente à altura dos desafios que temos aqui", conclui.




Guinendade/DW

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