Um jovem guineense, Lesmes Monteiro, activista do Movimento de Cidadãos Conscientes e Inconformados (MCCI) foi alvo de uma agressão física na sua residência. Motivo? Ter vindo a liderar manifestações “pacíficas” contra o atual regime na Guiné- Bissau.
Como habitualmente, as agressões foram feitas “por desconhecidos”. É sabido que os indignos escondem a cara e só os cobardes podem agredir quem, pacificamente, emite uma opinião. Isto é possível porque alguns se consideram como senhores de tudo no país. Pensam-se donos da Constituição, que interpretam como muito bem entendem, do património do povo e, agora, até da verdade absoluta.
A História ensina, desde há séculos, que quem se pensa senhor da verdade acaba, muitas vezes, por cair no ridículo, primeiro, e depois na sua própria armadilha. Galileu foi perseguido por teimar, perante a Igreja e os nobres, que a terra era redonda e se movia. Foi obrigado a retratar-se para não ser condenado à pena de morte por aqueles que teimavam que o nosso planeta era plano e estava parado no ar. Hoje todos conhecem o seu nome e ninguém recorda o daqueles que eram, então, os senhores da terra.
Os verdadeiros líderes sabem que haverá sempre quem critique as suas obras mesmo quando a imensa maioria as considere relevantes. Saber viver com a crítica (muito mais quando ela é pacífica), é a primeira regra do verdadeiro democrata.
Quando se espanca um jovem pelo simples facto de, como todos os jovens, ser contestatário, quando se dispersa uma vigília com o uso de granadas de gás lacrimogéneo e bastonadas, quando a polícia prende, mesmo que por poucas horas, quem se manifesta serenamente contra medidas que considera erradas ou contra governantes com os quais não concorda, a democracia é espezinhada. E os rostos que representarão, no futuro, esta época de miséria intelectual e política serão os de quem dirige o país. Mesmo que não tenham sido eles a ordenar estas agressões serão responsáveis, perante as gerações vindouras, de as terem permitido. E o seu trabalho será, para sempre, considerado vergonhoso.
Impedir quem quer que seja de emitir uma opinião, mesmo que errada, será sempre um acto criminoso. As opiniões combatem-se com diálogo e não com armas ou agressões. Uma frase conhecida, erradamente atribuída a Voltaire, explica isso melhor do que qualquer texto: “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”.
Ouvir os conterrâneos, contestar as suas opiniões quando delas discordarmos, termos a humildade de as aplaudir quando as percebermos correctas, partilharmos opiniões, são os primeiros passos para uma convivência sã que poderá levar o nosso país à tão esperada e desejada época de paz e prosperidade. Verdade absoluta? Só Deus a pode emitir! Quem O respeitar perceberá que não pode almejar a sua omnisciência.
Estas as reflexões que tenho guardado, há muito, para mim, por hesitar na sua divulgação. Sentia que, enquanto guineense consciente dos meus deveres e direitos, deveria mostrar a minha revolta e tentar alertar os que seguem este caminho perigoso de tentar calar os outros pela violência e por falta de argumentos e carácter. Mesmo depois de ter, também, sofrido na pele estes abusos calei a dor e a revolta por pensar que uma denúncia crítica poderia levar os algozes a extremarem as suas posições. Tinha a esperança, que hoje sei ser vã, de que pudessem reflectir e mudar a sua actuação.
Hoje sei que o silêncio das vítimas torna os agressores mais violentos e impunes: Artur Sanha, Francisco Fadul, Faustino Fudut Imbali, Silvestre Alves, Iancuba Djola Indjai e Pedro Infanda. Como se confirma com mais estas agressões.
É altura de dizer, olhos nos olhos, que todos devemos recordar irmãos, amigos e camaradas como Nicandro Pereira Barreto, Hélder Proença, Roberto Cacheu, Baciro Dabo, João Bernardo Vieira e Tagme Na Wie, e infelizmente, muitos outros e que, em nome do chão sagrado da Guiné- Bissau, não podemos permitir que seja o ódio a dirigir o nosso Povo.
Devemos dizê-lo alto, convicta e pacificamente. Seremos nós, o Povo, a dar o exemplo de uma luta por ideais usando a força da razão.
Esperemos que não queiram responder com a razão da força.
Bissau, Abril de 2017
Por: Francisco Conduto de Pina
Guinendade/Odemocrata
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