A União Patriótica Guineense (UPG), um dos partidos candidatos às eleições legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau, propôs hoje começar o país do zero, nomeadamente nos setores da educação, saúde e judicial.
"Em termos programáticos a nossa proposta é fazer tudo do zero, uma vez que os 46 anos de independência não trouxeram nada de novo, antes pelo contrário, no setor da educação nós massificamos o ensino e perdemos totalmente a qualidade do ensino. Temos muita gente que faz o sétimo ano e que não é capaz de escrever uma carta. Por isso temos de começar do zero", afirmou à Lusa o líder da UPG, Fernando Vaz.
Segundo Fernando Vaz, que foi ministro do Turismo no governo liderado por Umaro Sissoco Embalo, o mesmo princípio se aplica ao setor da saúde.
"Os nossos hospitais desapareceram quase todos, os dispensários não existem, toda a estrutura que herdamos do colonialismo, a maior parte, desapareceu e não fomos capazes de substituí-los por outras estruturas", salientou.
Em relação ao poder judicial, Fernando Vaz disse que "não existe justiça na Guiné-Bissau" e que ninguém investe num país, onde não há justiça.
"É assim com todos os setores. Em relação aos recursos naturais também vamos partir do zero", afirmou, salientando que o programa da UPG é transversal e prevê várias reformas na sociedade guineense.
Questionado sobre em quê que a UPG pode fazer a diferença, Fernando Vaz disse que é no combate à corrupção.
"A corrupção está completamente e intimamente instalada no espírito dos governantes guineenses", disse, defendendo um maior "rigor".
Sobre o financiamento da campanha eleitoral e os meios ostensivos que algumas formações políticas têm, Fernando Vaz disse que "existem instrumentos legais que não são respeitados".
"Nós temos a lei-quadro de financiamento dos partidos políticos, que na sua essência tenta criar um equilíbrios para que não haja concorrência desleal, mas quando isso não é respeitado, a origem dos fundos ninguém conhece, os partidos aparecem de repente com milhões e milhões, o próprio Estado e a sociedade não questionam essa situação", afirmou.
"Na UPG funcionamos com os nossos meios e dos nossos militantes e respeitamos aquilo que está consignado na lei. Em relação aos outros não posso responder, mas que é suspeito e também vejo com alguma suspeição esse exagero de meios e de fundos, vejo, e não compreendo", afirmou.
Na entrevista à Lusa, Fernando Vaz pediu também aos guineenses para consolidarem a imagem do país e mostrarem que "efetivamente existe um Estado democrático".
"O povo guineense sempre fez as eleições sem grandes problemas, aliás cria-se uma expectativa muito negativa, para depois elogiarem e é isso que vai acontecer", disse.
Fernando Vaz deixou também críticas à atuação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que tem acompanhado a crise política que o país vive desde 2015.
"A CEDEAO, uma organização que eu respeito, é um órgão de cariz iminentemente económico, não político, mas no caso da Guiné-Bissau nós vemos a CEDEAO transformar-se num órgão político, a impor regras políticas, a ingerir nos nossos assuntos internos, a decidir por nós", afirmou.
Para Fernando Vaz, aquela posição não é "salutar", aconselhando a CEDEAO a ter "mais cuidado nas análises" e a ser mais isenta.
LUSA