Um modelo que pode ser implementado em diferentes sectores da
Guiné-Bissau, sendo um país com grande quantidade de sol durante todo o
ano, a aposta na energia solar limpa poderá ajudar na preservação do
meio ambiente, assim como ajudar na redução da emissão de carbono, um
desafio assumido em COP22 por todos os estados do mundo para salvar o
planeta.
Três mil e setecentos (3.700) pessoas da região de Gabú consomem a
corrente elétrica através da energia limpa baseada nos painéis solares.
Uma iniciativa de projeto Foundation Rural Energy Services (SSD-FRES), financiado pela União Europeia desde 2012.
Mesmo com o espaço ocupado pela FRES, a cidade de Gabú precisa ainda de
mais investimentos no âmbito da energia, melhor ainda se for renovável. A
população do sector é estimada em 81.495 (oitenta e um mil quatrocentos
e noventa e cinco) habitantes, de acordo com os dados publicados pelo
Instituto Nacional de Estatísticas (INE) em 2009.
O FRES, com objetivo de atingir uma cobertura regional, tem muito
trabalho pela frente tendo em conta que a região de Gabú tem uma
população de 205.608 (duzentos e cinco mil e seiscentos e seis)
habitantes, segundo dados disponíveis do senso de 2009 do Instituto
Nacional de Estatísticas.
A empresa tinha como objetivo fornecer corrente elétrica à população
mais vulnerável da comunidade rural e tinha como meta inicial, três mil
consumidores. Mas devido às demandas, hoje o projeto abrange o centro
urbano da sede de região de Gabú e já ultrapassou a meta inicial de 3
mil consumidores.
O ‘kits’ de material de instalação da energia solar é composto por
painel solar, bateria e cabos da corrente eléctrica. No entanto, a
empresa FRES põe a quantia de painéis à disposição do cliente de acordo
com a sua e necessidade e demanda.
Um painel com as respectivas ferramentas custa 20 mil francos CFA
[trinta euros]. Esse valor inclui o pagamento do contrato, custo de
instalação e o adiantamento de um mês do consumo da energia, que se
estima em 6.000 (seis mil) francos CFA.
Os clientes que têm mais necessidade da energia requisitam dois painéis
no preço de 30 mil francos CFA, que igualmente inclui o pagamento de
contrato, custo de instalação e o adiantamento de um mês do consumo da
energia [seis mil francos CFA].
O sistema funciona através de painéis solares fixados em domicílios
juntamente com baterias acumuladoras, o que permite a obtenção da
corrente elétrica e ligar pequenos equipamentos electrónicos, como
telemóvel, televisor ou frigoríficos.
O projeto mais amplo de energias renováveis no país emprega, de momento, 57 funcionários entre os contratados e efetivos.
O preço base de pagamento para os consumidores é de 6.000 (seis mil)
francos CFA, por cada painel. Isto é, para os clientes com um painel, o
custo é de 6.000 (seis mil) francos CFA e com dois painéis o cliente
paga o dobro e assim sucessivamente.
A FRES fornece
corrente elétrica às várias instituições públicas e privadas da região,
como Hospital Regional, a Esquadra da Polícia da Ordem Pública, assim
como uma rádio local.
Segundo informações recolhidas pela equipa de reportagem do jornal ‘O
Democrata’ que visitou aquela região, a referida empresa perspetiva
lançar um projeto piloto de uma central elétrica solar no sector de
Cuntuboel, região de Bafatá.
CENTRAL ELÉCTRICA SOLAR DE CUNTUBOEL ARRANCA NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2017
De acordo com Archives Fernandes, responsável administrativo e financeiro da Foundation Rural Energy Services (SSD-FRES),
a central solar terá uma capacidade de 100 megawatts e vai cobrir, a
partida quinhentas (500) famílias, permitindo aos consumidores ligar
todos os aparelhos electrónicos sem queda de corrente. Ainda cobrirá
empresas de `soldar´e outras empresas que consomem grande quantidade de energia.
Archives Fernandes revelou ao jornal ‘O Democrata’ que a central solar
vai começar a funcionar no primeiro trimestre deste ano, assinalando que
a instabilidade política tem atrasado o funcionamento que estava
previsto para o mês de Dezembro de 2016.
O responsável financeiro garantiu ainda que, se a experiência correr
bem, vão alargar a instalação do mesmo modelo de central solar por todos
os sectores que compõem a região de Gabú e posteriormente para todo o
país.
Até a altura da nossa reportagem, a empresa tinha alguns equipamentos
nas alfândegas, o que está a atrasar a operacionalização do central de
Cuntuboel.
Em relação ao fornecimento da corrente elétrica na região de Gabú, o
nosso entrevistado assinalou que inicialmente, em 2012, apenas receberam
a autorização para instalar a corrente nas zonas rurais da região onde a
central pública não conseguia levar os seus ramais. Acrescentou ainda
que, no primeiro ano, atingiu um número de 250 clientes e no ano
seguinte [2013] instalaram mil sistemas de painéis solares nas casas das
famílias de Gabú.
Tendo em conta a necessidade dos citadinos da cidade de Gabú – sede regional, a administração local solicitou a empresa FRES para
fornecer a corrente a alguns bairros da cidade, porque a empresa
pública da eletricidade estava momentaneamente parada, o que segundo nos
contou, fez com que a empresa atingisse a primeira meta de 3 mil
clientes em 2015.
Dada a boa administração interna em 2016, a União Europeia decidiu
financiar mais equipamentos para dar energia a 700 (setecentos)
clientes. Devido à solicitação dos populares da região de Bafatá, a
União Europeia financiou outra vez a FRES com materiais para instalar
mil sistemas solares em 2017, que serão distribuídos para algumas
tabancas da região de Gabú e de Bafatá que também está a solicitar os
serviços da empresa.
Em relação ao funcionamento, Archives Fernandes revelou que a empresa
tem uma autonomia financeira e que as receitas de pagamento dos clientes
permitem a manutenção dos equipamentos e o pagamento de salários dos
funcionários da empresa.
Nesse particular, o responsável financeiro que também desempenha funções
de Diretor Geral Interino da Empresa, disse que a maior dificuldade é o
pagamento por parte dos clientes. Não obstante, o crescimento dos
clientes, embora alguns não paguem atempadamente, a maioria paga sem
problemas nos períodos da campanha de comercialização da castanha de
cajú. Esta situação, segundo Archives Fernandes, deixa a empresa com
problemas nas suas contas em relação a regularização dos salários e
outras despesas adicionais.
Archives Fernandes afiançou que a instituição que representa conseguiu
atingir o seu propósito, na medida em que garante à população local a
luz elétrica e permite que desenvolvam as suas atividades.
“Nessa primeira fase, o nosso objetivo é garantir minimamente a luz
elétrica e permiti-los ligar os seus pequenos equipamentos electrónicos
nas tabancas. Já não saem de lá só para virem carregar os seus telefones
na sede de sector”, notou o responsável, para de seguida avançar que
futuramente será montada a central elétrica que vai permitir a ligação
de todos os equipamentos electrónicos.
Na visão do responsável Administrativo e Financeiro da FRES, o consumo
de energia limpa tem muitos benefícios para a população, na medida em
que permite a proteção do meio ambiente, ao contrário dos geradores que
além de poluir o ambiente, também faz barulho e incomoda os vizinhos.
Considerou ainda que, graças a sua empresa, a utilização das grandes
fogueiras nas tabancas para a aprendizagem de alcorão e para outras
atividades tradicionais diminuiu bastante.
A empresa FRES faz parte de uma sucursal de cinco empresas que operam em
África, filiais da empresa mãe sedeada na Holanda e conta com o apoio
material da União Europeia desde o início até este ano.
A FRES tem suas viaturas, o que lhe permite deslocar-se a casa dos
clientes para controlos de equipamentos, assim como as manutenções
regulares dos equipamentos instalados.
Saliente-se que, antes de FRES, existia em Gabú outra empresa que
fornecia energia eléctrica através dos grupos de geradores. Era a
Empresa ‘Eletrosolar’ que deixou de funcionar, deixando o terreno fértil à FRES.
EAGB DE GABÚ CONTA APENAS COM 288 CONSUMIDORES
Enquanto a empresa privada FRES procura atingir 4 mil consumidores, a
Empresa Pública de Energia Elétrica conta apenas com 288 consumidores, o
que não lhe permite cobrir as suas despesas.
A empresa gasta diariamente 500 litros de combustível, equivalente a
214.500 (duzentos e catorze mil e quinhentos) francos CFA diários e por
mês gasta 6.435.000 (seis milhões quatrocentos trinta e cinco mil)
francos CFA, e factura muito menos, o que a impossibilita de cobrir
todas as suas despesas, devido ao reduzido número de consumidores.
A central eléctrica pública de Gabú fornece a corrente elétrica durante
dois períodos, de manhã e a noite, de manhã das 09 às 18h30 minutos, já a
noite os clientes recebem a luz elétrica a partir das 19 horas até às
zero (00) horas.
A empresa pública conta com cinco grupos de geradores, três com
capacidade de 200 KVA que fornece a luz elétrica no primeiro período e
dois de 450 KVA que funciona a noite.
O preço básico está fixado em 20 mil francos CFA para os consumidores
que não têm frigoríficos e os que usam frigoríficos podem pagar até 30
mil francos CFA. O consumo é pré-pago.
O presidente do Comité de Gestão da EAGB Gabú, Aladje Mamadu Tchiutó
Camará, revelou à nossa equipa de reportagem que a grande dificuldade da
empresa consiste na obtenção de combustível, uma vez que as receitas
provenientes das cobranças não são suficientes para cobrir todas as
despesas, incluindo o pagamento de salários.
Segundo o responsável, os grupos de geradores que possuem são
suficientes para garantir a corrente elétrica 24/24 horas, mas as
adversidades consistem na falta de combustível e do clima muito quente
que não permite o normal funcionamento das máquinas.
Mamadu Tchiutó Camará reconheceu que ainda falta muito a fazer para
poderem responder às necessidades dos consumidores, mas afiançou que,
desde que a sua direção assumiu a gestão da empresa, não ficaram muitos
dias ou semanas sem corrente elétrica.
O responsável acredita que se atingirem mil clientes vão poder garantir a corrente elétrica regularmente aos citadinos de Gabú.
Tchiutó Camará revelou que compram o combustível ao mesmo preço que a
EAGB de Bissau, isto é, a 429 francos CFA, o que contribui muito para a
sobrevivência da empresa. Esclareceu que não tem nenhuma empresa em
especial que lhes forneça o combustível a crédito.
Segundo nos contou, só conseguem o combustível quando depositam o
dinheiro na conta da empresa, o que complica muito as contas, uma vez
que as receitas das cobranças não conseguem cobrir os custos
operacionais.
Os grupos de geradores da central pública foram fornecidos pelo governo
há dois anos, mas devido às dificuldades em conseguir um número
significante dos consumidores, a gestão da empresa não consegue fornecer
a corrente elétrica regularmente.
Nesse sentido, Mamadu Tchiutó Camará apelou à comunidade em geral para
aderir à empresa pública para permiti-la ter capacidade de fornecer a
corrente elétrica de forma mais regular e eficaz.
O gestor da empresa lembrou ainda que a responsabilidade da continuidade
da empresa pública é de todos os citadinos da região de Gabú e pediu
seguidamente o apoio das autoridades nacionais no sentido de encontrarem
uma empresa que lhes possa fornecer combustível.
Questionado se recebe algum apoio de alguma instituição ou
individualidade, o responsável do comité de gestão lembrou-se do apoio
recebido de um empresário, que uma vez lhes apoiou monetariamente para
adquirirem combustível.
Segundo o nosso entrevistado, uma das grandes dificuldades reside no
pagamento por parte dos consumidores, que não conseguem pagar
atempadamente. Pelo que são obrigados a fazer empréstimo para poderem
comprar o combustível.
“As vezes, somos obrigados a pedir emprestado dinheiro para depositar
para assim podermos ter combustível. Mesmo quando pagam todos, não
conseguimos comprar combustível sem fazer um empréstimo”, realça.
Mamadu Tchiutó Camará sublinhou que a sua direção tem a responsabilidade
de apenas gerir os recursos da empresa, que consiste em três aspetos a
saber: garantir o fornecimento da corrente elétrica, pagar os
funcionários e fazer a manutenção dos equipamentos.
EAGB DE GABÚ PERDE CLIENTES PARA EMPRESA FRES QUE OREFECE ENERGIA SOLAR REGULAR
Os consumidores da energia pública apontam as falhas no fornecimento da
energia elétrica por parte da EAGB de Gabú e fazem dos pretextos o
motivo para aderir aos serviços da empresa privada FRES.
Os consumidores abordados pela nossa equipa de reportagem queixam-se do
preço base de 20 mil francos CFA que consideram elevado, para de seguida
acrescentarem que os fornecedores da energia elétrica não cumprem com
os horários definidos.
No caso da FRES, os clientes não têm que esperar nada da parte desta
empresa para terem luz em casa. O consumidor é instruído apenas em como
ligar e desligar os seus aparelhos, a partir daí é o próprio quem decide
quando e como consumir a energia elétrica.
Os consumidores da energia em Gabú apontaram o preço base e acessível de
6.000 (seis mil) francos CFA fixado pela empresa FRES para o consumo
mensal da energia elétrica como motivo suficiente para a maioria dos
citadinos de Gabú, assim como das aldeias nos arredores.
A nossa equipa de reportagem interpelou a administração local sobre o
assunto, mas esta recusou pronunciar-se. Mas ao longo da entrevista ao
`O Democrata´, exibiu um projeto de electrificação da cidade de Gabú,
mas que não se realizou devido às instabilidades politicas que o país
vive.
Por: Alcene Sidibé/Sene Camará
Enviados especiais à zona Leste do país
Fotos: Alcene Sidibé & Sene Camará
Fevereiro de 2017
Fonte: odemocrata
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