O PAÍS VAI MAL. No espaço de dois anos o
actual Governo é o QUINTO Governo da legislatura. Há salários em atraso; o Executivo
governa sem Programa nem Orçamento (o limite legal do recurso a duodécimos foi
atingido); as escolas públicas estão encerradas devido a greve dos professores.
A Assembleia Nacional Popular claudica; Circulam rumores inquietantes, do tipo
“pode haver golpe de estado a qualquer momento para repor as coisas no lugar”,
que agitam os cidadãos e a sociedade.
Por tudo o que acontece, o presumível culpado
é José Mário Vaz, Presidente da República que demitiu Domingos Simões Pereira
provocando a queda do primeiro governo da legislatura, facto que engendrou,
consequentemente, a crise política e jurídica que se seguiu.
Os rumores, boatos e especulações existem
para todos os gostos. Não são notícias jornalisticamente falando mas, são
informações que apontam importantes elementos de observação e de análise da
actualidade nacional, sobretudo.
Para dar alguma ideia do que se passa na
Guiné-Bissau, quis trazer à luz algumas das considerações (leia-se atoardas) feitas
nas ruas e nos bairros de Bissau, a forma como o cidadão vive, vê e cataloga a
crise política.
O
anúncio de José Mário Vaz de que, depois de regressar da cerimónia de
investidura do seu reeleito homólogo de Cabo Verde cumpriria as formalidades da
nomeação do novo Primeiro-ministro, deixou os cidadãos expectantes relativamente
a figura de consenso escolhida.
CATORZE
meses depois de despoletar a crise política, jurídica, econômica, social, etc.,
etc., o país e os cidadãos chegaram ao limite do sofrimento, aparentemente. A
ténue luz no fundo do imbróglio político que envolve o país parte da mesa de
negociações de Conakry patrocinada pela CEDEAO, sob os olhos atentos das Nações
Unidas.
A crise
política, à luz do acordo recentemente rubricado em Conakry, pelas partes
envolvidas, pode estar na recta final. Por isso, é sujeito principal das
conversas de rua, tascas, bancadas de bairros, enfim, de todos os locais em que
se aglomeram gentes por qualquer razão em Bissau; essas conversas são
fortemente apimentadas por elementos alegadamente probatórios de atoardas de
diversas origens.
Ninguém,
ou pouca gente, tem dúvidas sobre o poder que os rumores têm no quotidiano do
guineense, em particular do citadino da capital, Bissau, fonte, berço, origem
de tudo, de bem e de mal, que sucede no país.
O gosto
dos políticos em fazer circular rumores é inquestionável. Os assuntos ditos
sigilosos que extravasam dos conclaves partidários ao conhecimento público,
reiteradas vezes, falam por si.
Tomam
pulso para medir a temperatura o impacto na sociedade e a reação dos cidadãos
relativamente a determinadas questões ou assuntos relevantes da vida nacional. De
“alguim” para “alguim” alastra-se até ganhar proporções consideráveis de
cobertura nacional.
E, hoje,
aí está um motivo: Diz vox populi "JOMAV atrasa a nomeação do
Primeiro-Ministro". Porquê? Diz a mesma fonte, porque não concorda com
AUGUSTO OLIVAIS, figura indigitada pelo PAIGC.
Os
elementos dos rumores são muitos, mais a ligeireza de alguns, e, a exiguidade
deste espaço condicionam a sua exposição in totum. Mas, contudo, não é de mais
retratar uns dois a três rumores que, pretensamente, "explicam" o
comportamento do Primeiro Magistrado do país no quadro da busca da solução para
a crise vigente.
IMPOPULARIDADE DE JOMAV
Diz-se
à boca pequena que a popularidade do Presidente da República caiu a pique dos
primeiros tempos da sua investidura a data presente. Tem sido criticado pela
forma como exerce a magistratura, a sua alegada pretensão de imiscuir em
assuntos de governação mas, na verdade, o tom das críticas acentuou mais a
partir dos instantes primeiros da demissão do primeiro governo da legislatura.
Alegadamente,
a forma como tem evoluído na polêmica questão dos 15 deputados expulsos do
PAIGC, também, não ajudou a elevar a sua quota de popularidade.
Presentemente,
fala-se da sua suposta "fuga" ao encontro com o mediador da CEDEAO,
presidente Alpha Kondé, em Lomé, Togo, que devia reportar-lhe as negociações de
Conakry. Dizem rumores que JOMAV terá manifestado um súbito mal-estar que provocou
a sua inopinada evacuação à Lisboa. Todavia, diz-se ainda, que poucas horas
depois de chegar a capital portuguesa, depois dos exames médicos da praxe, ter-se-á
recuperado e, até foi visto a passear algures.
Também
fala-se de um alegado descontentamento dos seus pares da sub-região com a forma
como tem tratado os mediadores da crise bissau-guineense.
OS DESACORDOS JOMAV vs BACIRO DJA
As atoardas
não poupam ninguém em Bissau. O relacionamento de José Mário Vaz com Baciro Dja
é "tratado" desde a altura em que este se demitiu das funções de Ministro
da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Porta-voz
do Governo, por alegadas desinteligências com o então Primeiro-ministro
Domingos Simões Pereira. Rumores dão conta de que Dja terá beneficiado de um
carro e dinheiro. Prémio pela posição assumida?
Expressão de solidariedade? As
mesmas fontes dizem ainda que JOMAV terá dado a Dja muito dinheiro depois da
sua segunda demissão, quando o STJ declarou inconstitucional o seu governo.
O que
estranha é o desentendimento entre as duas figuras ao ponto de ser frequente
ouvir vozes na praça pública garantirem que "JOMAV ka osa tira Baciro
Dja" (Falta coragem a JOMAV para demitir Baciro Dja). Fala-se num suposto
"segredo fundo" entre os dois, que poderá ser revelado caso demitir o
actual Primeiro-ministro. Verdade ou não, o certo é que Baciro Djá prometeu
recentemente que se sair de manhã JOMAV sai a tarde.
Dos
despachos institucionais, regulares, do Primeiro-Ministro com o Presidente da
República pouco ou nada se fala. Pelos vistos a corrente já não passa entre os
dois.
TOADAS SOBRE CEDEAO
Bissau
ainda diz, que a CEDEAO pode já estar de paciência esgotada com José Mário Vaz
devido a forma como tem estado a tratar as iniciativas no sentido de encontrar
a saída ideal da crise, isto é, que reúna o máximo de consensos possíveis a
partir de todos os actores implicados no processo.
Espera-se
ainda esta semana em Bissau a chegada de uma missão da organização
sub-regional, embora oficialmente, até este momento não tenha transpirado nada
nesse sentido.
ATOARDAS EXTREMISTAS
Dessas
não quero falar porque, em meu entender, retratam o estado de espírito dos
cidadãos que, cansados de assistirem os mesmos filmes "chove não
molha" e "molha mas não chove", avançam com hipotéticas soluções
antidemocráticas como a "melhor via para colocar as coisas nos respectivos
lugares". Não contam que o que menos deseja o povo é que aconteça a
alteração da ordem institucional sem que seja pela via democrática porque,
experiências passadas mostraram o quão prejudicial e penoso pode ser.
HORA DE REPOSICIONAMENTO
Abeirando-se
do fim, as partes entram na fase de organização e reposicionamento. O PAIGC,
sem sombra de dúvida, vai ter de redefinir as suas estratégias para os próximos
tempos; a crise foi demasiado desgastante para ser esquecida e colocar de lado
as ilações e os ensinamentos evidenciados.
Outrossim,
por uma questão de cortesia política, vai ter que reconhecer os partidos que se
colocaram ao seu lado durante a crise política. Alguma coisa hão-de obter como
prémio no aparelho governamental.
O mesmo
se pode dizer do segundo partido mais votado, PRS, em dificuldades para manter
as suas estruturas ante a forte presença no novo Partido,
Assembleia de Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), que das suas fileiras retirou uma boa porção
dos seus simpatizantes, militantes e dirigentes. Este dado novo deve ser devidamente
equacionado e tratado para que não tenha consequências gravosas para o seu
crescimento ou, na melhor das hipóteses, garantir a sua manutenção como segunda
força política.
Indubitavelmente,
os 15 deputados expulsos do PAIGC vão ter de rever a sua estratégia para
recuperarem os respectivos lugares e, quiçá, o respeito e as regalias de que
desfrutavam antes da crise. Diga-se o que se disser, o grupo tem influências
nos órgãos do Partido que, por mais pequenas que sejam, não devem ser
menosprezadas. Além disso, não é aconselhável a persistência de conflitos entre
as partes com o aproximar de mais um Congresso, e, das eleições locais e legislativas
aprazadas para 2018. Manda o bom senso, como disse um militante, que haja união
para que as metas que vierem a ser traçadas possam ser alcançadas
satisfatoriamente.
A Hora
é de procura de soluções ideais adaptadas à conjuntura actual de forma a fechar
o ciclo de crises que muito mal tem feito ao país, e, nem sequer foi de grande
utilidade para os actores que têm evoluído nos diferentes cenários que se têm
sucedido. Justifica, neste caso, parafrasear Amílcar Cabral: “Quem não entendeu
isso, não entendeu nada ainda.”
Humberto
Monteiro
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