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segunda-feira, 18 de julho de 2016

AUTOBIOGRAFIA DE FREDERICK FORSYTH RECORDA GOLPE DE ESTADO NA GUINÉ-BISSAU

"O meu avião da TAP descolou de Lisboa às 20:30. O que eu não sabia era que, mal o avião virou para sul, uma bomba explodiu no quartel-general do Exército guineense, espalhando o chefe do Estado-Maior em vários pedaços por todo o gabinete. Foi assim que começou o golpe de Estado", recorda o escritor, referindo-se aos acontecimentos que viveu em Bissau em 2009 e que levaram ao assassinato do então chefe de Estado Nino Vieira.


Frederick Forsyth decidiu deslocar-se ao país na sequência das investigações para um romance (`The Cobra`), que tem como base o "vasto mundo" do crime por detrás do tráfico de cocaína.
Nas memórias, o romancista britânico escreve que grande parte da cocaína destinada à Europa era embarcada na costa da Colômbia e da Venezuela em navios que rumavam à África Ocidental, em pontos onde a lei e a ordem podia ser "comprada" com subornos.

"A Guiné-Bissau era dos principais pontos de transbordo africanos", escreve Frederick Forsyth, sublinhando que as autoridades locais -- Exército, Marinha, autoridades portuárias e polícia -- estavam a soldo dos colombianos e que os pagamentos não eram efetuados em moeda local, mas sim em cocaína.

Aparentemente, escreve o romancista britânico, o chefe de Estado-Maior (Tagmé Na Waie) tinha andado a "tirar fatias demasiado grandes" e pagara por isso no atentado à bomba contra o quartel onde se encontrava.

"Revelações posteriores demonstraram que provavelmente os responsáveis tinham sido os colombianos. Os mecanismos do temporizador e de ativação da bomba eram demasiado sofisticados para terem sido montados localmente", refere o britânico, que acompanhou em Bissau os acontecimentos que levaram ao Golpe de Estado em março de 2009.

Forsyth escreve que, "em retrospetiva, é capaz de ter sido um erro ir investigar transportes de cocaína na Guiné-Bissau" e que "não tinha a menor intenção de acabar no meio de um golpe de Estado".
Frederick Forsyth, 78 anos, ex-piloto da Royal Air Force, antigo jornalista da Reuters e da BBC, tornou-se conhecido como autor de romances como o "Chacal", publicado em 1971, e revela na autobiografia que trabalhou ao serviço do MI6, serviços de informações britânicos durante duas décadas.

Os acontecimentos vividos em Bissau em 2009 são particularmente enfatizados no livro pois na altura o autor chegou a denunciar uma eventual ação da CIA, serviços de informação dos Estados Unidos, que intercetaram o computador pessoal da mulher no momento em que, em Londres, escreveu o nome do país onde o marido se encontrava.

"Entretanto, eu andava pelas enseadas a espreitar através da vegetação rasteira as mansões brancas imaculadas dos colombianos. Como se diz, a cavalo dado não se olha o dente; aquele golpe de Estado pareceu-me bom demais para ser ignorado, pelo que as passagens de `The Cobra` não são apenas exatas, mas autobiográficas", confessa.

"Frederick Forsyth -- A Minha Vida na Intriga Internacional" (Bertrand Editora, 351 páginas), nas livrarias desde sexta-feira passada, inclui fotografias do autor, nomeadamente das reportagens na guerra civil do Biafra, em 1968.

Fonte:RTP

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