"O meu avião da TAP descolou de Lisboa às 20:30. O que eu não sabia era
que, mal o avião virou para sul, uma bomba explodiu no quartel-general
do Exército guineense, espalhando o chefe do Estado-Maior em vários
pedaços por todo o gabinete. Foi assim que começou o golpe de Estado",
recorda o escritor, referindo-se aos acontecimentos que viveu em Bissau
em 2009 e que levaram ao assassinato do então chefe de Estado Nino
Vieira.
Frederick Forsyth decidiu deslocar-se ao país na sequência das
investigações para um romance (`The Cobra`), que tem como base o "vasto
mundo" do crime por detrás do tráfico de cocaína.
Nas memórias, o romancista britânico escreve que grande parte da cocaína
destinada à Europa era embarcada na costa da Colômbia e da Venezuela em
navios que rumavam à África Ocidental, em pontos onde a lei e a ordem
podia ser "comprada" com subornos.
"A Guiné-Bissau era dos principais pontos de transbordo africanos",
escreve Frederick Forsyth, sublinhando que as autoridades locais --
Exército, Marinha, autoridades portuárias e polícia -- estavam a soldo
dos colombianos e que os pagamentos não eram efetuados em moeda local,
mas sim em cocaína.
Aparentemente, escreve o romancista britânico, o chefe de Estado-Maior
(Tagmé Na Waie) tinha andado a "tirar fatias demasiado grandes" e pagara
por isso no atentado à bomba contra o quartel onde se encontrava.
"Revelações posteriores demonstraram que provavelmente os responsáveis
tinham sido os colombianos. Os mecanismos do temporizador e de ativação
da bomba eram demasiado sofisticados para terem sido montados
localmente", refere o britânico, que acompanhou em Bissau os
acontecimentos que levaram ao Golpe de Estado em março de 2009.
Forsyth escreve que, "em retrospetiva, é capaz de ter sido um erro ir
investigar transportes de cocaína na Guiné-Bissau" e que "não tinha a
menor intenção de acabar no meio de um golpe de Estado".
Frederick Forsyth, 78 anos, ex-piloto da Royal Air Force, antigo
jornalista da Reuters e da BBC, tornou-se conhecido como autor de
romances como o "Chacal", publicado em 1971, e revela na autobiografia
que trabalhou ao serviço do MI6, serviços de informações britânicos
durante duas décadas.
Os acontecimentos vividos em Bissau em 2009 são particularmente
enfatizados no livro pois na altura o autor chegou a denunciar uma
eventual ação da CIA, serviços de informação dos Estados Unidos, que
intercetaram o computador pessoal da mulher no momento em que, em
Londres, escreveu o nome do país onde o marido se encontrava.
"Entretanto, eu andava pelas enseadas a espreitar através da vegetação
rasteira as mansões brancas imaculadas dos colombianos. Como se diz, a
cavalo dado não se olha o dente; aquele golpe de Estado pareceu-me bom
demais para ser ignorado, pelo que as passagens de `The Cobra` não são
apenas exatas, mas autobiográficas", confessa.
"Frederick Forsyth -- A Minha Vida na Intriga Internacional" (Bertrand
Editora, 351 páginas), nas livrarias desde sexta-feira passada, inclui
fotografias do autor, nomeadamente das reportagens na guerra civil do
Biafra, em 1968.
Fonte:RTP
segunda-feira, 18 de julho de 2016
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