Leipzig, segunda-feira cinzenta e chuvosa. Bruma, de 22 anos, refugia-se do frio na moderna academia Red Bull, sua casa desde que no passado mês de Junho trocou, numa transferência de 12,5 milhões de euros, o Galatasaray pelo RB Leipzig, segundo classificado da Bundesliga na temporada transacta.
Seis anos depois, protagonizou uma das novelas memoráveis do futebol português, quando acabou perseguido por adeptos leoninos por forçar a saída do clube. Teve de se esconder em Espanha. Passou pelo Galatasaray, Gaziantepspor e Real Sociedad, foi campeão turco, chuteira de bronze no Mundial-sub-20 e no Europeu sub-21. Um estudo da Goalpoint já o nomeou o melhor driblador da Europa.
Numa entrevista de 54 minutos, falou da sua carreira e do que esperava dos dois duelos contra o FC Porto para a Champions. No primeiro, a equipa alemã venceu 3-2, com Bruma em grande destaque. O segundo jogo é esta quarta-feira, 1 de Novembro, no estádio do Dragão.
Como veio parar ao RB Leipzig?Tinha propostas de equipas de vários campeonatos, como o espanhol, o francês e o inglês. Vim para aqui por causa das condições, porque a equipa é muito jovem e tinha mais possibilidades de evoluir.
Este clube, por ser da Red Bull, tem uma mentalidade muito própria. Quais as diferenças para as outras equipas que representou?A maior diferença é que o Leipzig não joga com extremos. O Galatasaray jogava mais aberto, enquanto aqui jogam mais pelo meio. Estou a adaptar-me a essa posição mais interior, mas estou a gostar. Outra coisa nova são as condições da academia. São de sonho.
O que há na academia?É muito linda. Há uma máquina virtual para melhorar o controlo de bola, a visão de jogo, consegues ver a baliza e tens de marcar golo. Nunca usei essa máquina na vida, só a têm os clubes top, como o Real Madrid e o Barcelona. Ajuda a evoluir. A primeira vez que a usei ia rebentando a máquina toda!
Onde está a viver?Ainda estou num apartamento no centro de Leipzig. Estou à espera que chegue a mobília de Istambul para mudar-me para a minha casa. A cidade é pequenina mas é boa. Já encontrei comida portuguesa e também uns restaurantes espanhóis.
O RB Leipzig tem sido muito criticado na Alemanha por pertencer à Red Bull. Como tem reagido aos assobios sempre que joga fora de casa?Já me contaram isso mas, sinceramente, não sinto a diferença. No Galatasaray também assobiavam muito quando íamos fora. São coisas de que se fala lá fora mas que não chegam aos jogadores, entende? Nós só pensamos em ganhar os jogos.
Bruma está a viver num apartamento em Leipzig: "Estou à espera que chegue a mobília de Istambul para me mudar para a minha casa"
O que espera do confronto com o FC Porto para a Liga dos Campeões?
É sempre bom voltar ao meu país para jogar. Mas não vai ser fácil, pá. A maior força do Porto actualmente é o treinador que conseguiu que a equipa esteja mais junta e motivada. O Sérgio Conceição está sempre a puxar pelos jogadores. E é um grupo experiente. No Leipzig, muitos jogadores nunca tinham entrado na Champions. Fizemos dois jogos e agora estamos mais informados. Isso conta muito. Mas tenho a certeza de que vai ser muito equilibrado, como todas as partidas deste grupo.
Qual o jogador do FC Porto que mais admira?Admiro todos, mas gosto muito de ver o Danilo jogar à bola. É um jogador fundamental para a equipa, um grande médio, uma máquina.
Partilha com ele as raízes em Bissau. Que memórias guarda da capital guineense?Lembro-me de andar sempre atrás da minha mãe. Ela ia para a feira, eu ia com ela, ela ia às compras, eu ia com ela. O meu pai morreu quando eu era ainda uma criança e só o conheci por fotografia. A minha mãe vendia numa feira e ficou a tomar conta de quatro crianças: ao todo, o meu pai teve 10 filhos, e eu sou o mais novo. A minha mãe fazia tudo para mim. Eu tinha fome e pedia-lhe comida. Às vezes, havia arroz, havia peixe, pouca carne. Outras vezes não havia nada.
Chama-se Armindo Tué Na Bangna. Porque lhe chamam Bruma?Na tradição africana, os pais escolhem sempre um segundo nome para os filhos. Esses nomes depois tornam-se mais importantes que os oficiais. Diz a minha família que foi o meu falecido pai quem começou a chamar-me Bruma. E pegou.
E como é que o Bruma começou a jogar futebol?Eu jogava na rua com os meus irmãos. Nem ligava muito ao futebol, está a ver? Mas o meu irmão Mesca [ex-Chelsea, actualmente nos cipriotas do AEL Limassol], de quem todo o mundo falava em Bissau como grande craque, levou-me à academia Demba Sanó. É aí que vão todos os jogadores e eu fui lá com 10 ou 11 anos. Gostaram de mim e fiquei.
Foi aí que o seu empresário, Catió Baldé, o descobriu. Diz que lhe bastaram uns minutos para perceber que estava diante de um talento inato...É verdade. O Catió veio falar comigo e disse-me que gostava de me levar para Portugal. Eu não estava nem aí. Mas ele foi falar com a minha mãe e ela aceitou. Eu não queria ir porque não queria deixar a minha mãe, os meus irmãos e os meus amigos. Tinha 12 anos. Desde aí, nunca mais voltei à Guiné-Bissau. Espero voltar brevemente.
Qual o jogador do FC Porto que mais admira?Admiro todos, mas gosto muito de ver o Danilo jogar à bola. É um jogador fundamental para a equipa, um grande médio, uma máquina.
Partilha com ele as raízes em Bissau. Que memórias guarda da capital guineense?Lembro-me de andar sempre atrás da minha mãe. Ela ia para a feira, eu ia com ela, ela ia às compras, eu ia com ela. O meu pai morreu quando eu era ainda uma criança e só o conheci por fotografia. A minha mãe vendia numa feira e ficou a tomar conta de quatro crianças: ao todo, o meu pai teve 10 filhos, e eu sou o mais novo. A minha mãe fazia tudo para mim. Eu tinha fome e pedia-lhe comida. Às vezes, havia arroz, havia peixe, pouca carne. Outras vezes não havia nada.
Chama-se Armindo Tué Na Bangna. Porque lhe chamam Bruma?Na tradição africana, os pais escolhem sempre um segundo nome para os filhos. Esses nomes depois tornam-se mais importantes que os oficiais. Diz a minha família que foi o meu falecido pai quem começou a chamar-me Bruma. E pegou.
E como é que o Bruma começou a jogar futebol?Eu jogava na rua com os meus irmãos. Nem ligava muito ao futebol, está a ver? Mas o meu irmão Mesca [ex-Chelsea, actualmente nos cipriotas do AEL Limassol], de quem todo o mundo falava em Bissau como grande craque, levou-me à academia Demba Sanó. É aí que vão todos os jogadores e eu fui lá com 10 ou 11 anos. Gostaram de mim e fiquei.
Foi aí que o seu empresário, Catió Baldé, o descobriu. Diz que lhe bastaram uns minutos para perceber que estava diante de um talento inato...É verdade. O Catió veio falar comigo e disse-me que gostava de me levar para Portugal. Eu não estava nem aí. Mas ele foi falar com a minha mãe e ela aceitou. Eu não queria ir porque não queria deixar a minha mãe, os meus irmãos e os meus amigos. Tinha 12 anos. Desde aí, nunca mais voltei à Guiné-Bissau. Espero voltar brevemente.
Começou no futebol com 10 anos, numa academia: "Jogava com os meus irmãos na rua e nem ligava muito a futebol"
Qual foi a primeira coisa que se lembra ter feito em Lisboa?
Comer um hambúrguer. O Catió levou-nos ao Macdonald's e eu não sabia o que era. Peguei naquilo e encheu-me a barriga toda. Passei logo a gostar de hambúrguer.
Como foram os primeiros tempos em Portugal?Muito difíceis. Eu nem falava português, só falava crioulo. Era tudo estranho para mim e não tinha os meus amigos. Passei mal, é verdade. Mas fiquei em casa do Catió, nas Colinas do Cruzeiro, em Odivelas, com outros dois jogadores da minha idade, o Antoninho e o Bruno Mendonça, e com os filhos do Catió, o Nélson e a Tuxa, e aos poucos fui-me adaptando. Depois comecei a treinar no Benfica, naquele sintético ao lado do estádio.
Porque não ficou no Benfica?Não sei bem. Lembro-me que antes do primeiro treino caí na bicicleta do filho do Catió e esfolei-me todo. Queriam levar-me para o hospital mas recusei. Fui treinar com ligaduras nos braços e nas pernas e não parei de correr. Disseram logo para eu ficar no Seixal. Pouco depois, o Catió veio buscar-me e disse-me que íamos ao Sporting, que era melhor. Nem fomos a casa. Fui directamente do Seixal para Alcochete com a mala no carro. O Aurélio Pereira e o Jean Paul quiseram logo que ficasse no Sporting. Só depois disso é que o Catió me disse que o Benfica me tinha dispensado. Fiquei um pouco triste, porque estava a começar a gostar do Benfica, entende? Tinha feito amigos, estava a integrar-me. Mas eu era sportinguista e percebi que há males que vêm por bem. No Sporting tinha o Antoninho, o Bruno Mendonça, o Carlos Mané, foi uma coisa boa para mim e fiz lá a formação toda. Alcochete é a minha casa e ainda hoje sofro pelo Sporting. Quero que sejam campeões.
Como era na escola?Estudei até ao 10º ano. Lembro-me que gostava das aulas de espanhol, era uma boa professora e ainda hoje acho que é uma língua gira. Mas não gosto de mais nada para além do futebol. É a única coisa que sei fazer.
Quem o chamou para a equipa principal?Foi o Jesualdo Ferreira. Estava na equipa B e chamou-me para treinar com a primeira equipa. Naquela primeira semana, ele deu-me bem duro. Começou a dizer-me que era um cagão, que não sabia dominar uma bola, porque eu recebia de costas e ele queria que eu rodasse logo para a frente. Fodeu-me a cabeça toda. Na equipa B era rei, mas ali vi que o futebol não era tão fácil como pensava. Mesmo assim, lançou-me contra o Marítimo. No aquecimento, nem sabia bem o que estava ali a fazer, estava todo nervoso. Perdi logo a primeira bola. E a segunda. Pensava só: "Fogo, Nossa Senhora, onde e que me fui meter?". Mas depois fintei um, o estádio gritou e ganhei confiança. Aos 45 minutos, ele substituiu-me. E eu fiquei a pensar que tinha acabado ali, que tinha perdido a minha oportunidade. Mas não. Na jornada seguinte, entrei contra o Gil Vicente e fiz o meu primeiro golo. O Jesualdo foi muito importante na minha carreira. Vejo-o como um segundo pai. Ensinou-me muito e não sei onde estava agora se não fosse ele.
Como foram os primeiros tempos em Portugal?Muito difíceis. Eu nem falava português, só falava crioulo. Era tudo estranho para mim e não tinha os meus amigos. Passei mal, é verdade. Mas fiquei em casa do Catió, nas Colinas do Cruzeiro, em Odivelas, com outros dois jogadores da minha idade, o Antoninho e o Bruno Mendonça, e com os filhos do Catió, o Nélson e a Tuxa, e aos poucos fui-me adaptando. Depois comecei a treinar no Benfica, naquele sintético ao lado do estádio.
Porque não ficou no Benfica?Não sei bem. Lembro-me que antes do primeiro treino caí na bicicleta do filho do Catió e esfolei-me todo. Queriam levar-me para o hospital mas recusei. Fui treinar com ligaduras nos braços e nas pernas e não parei de correr. Disseram logo para eu ficar no Seixal. Pouco depois, o Catió veio buscar-me e disse-me que íamos ao Sporting, que era melhor. Nem fomos a casa. Fui directamente do Seixal para Alcochete com a mala no carro. O Aurélio Pereira e o Jean Paul quiseram logo que ficasse no Sporting. Só depois disso é que o Catió me disse que o Benfica me tinha dispensado. Fiquei um pouco triste, porque estava a começar a gostar do Benfica, entende? Tinha feito amigos, estava a integrar-me. Mas eu era sportinguista e percebi que há males que vêm por bem. No Sporting tinha o Antoninho, o Bruno Mendonça, o Carlos Mané, foi uma coisa boa para mim e fiz lá a formação toda. Alcochete é a minha casa e ainda hoje sofro pelo Sporting. Quero que sejam campeões.
Como era na escola?Estudei até ao 10º ano. Lembro-me que gostava das aulas de espanhol, era uma boa professora e ainda hoje acho que é uma língua gira. Mas não gosto de mais nada para além do futebol. É a única coisa que sei fazer.
Quem o chamou para a equipa principal?Foi o Jesualdo Ferreira. Estava na equipa B e chamou-me para treinar com a primeira equipa. Naquela primeira semana, ele deu-me bem duro. Começou a dizer-me que era um cagão, que não sabia dominar uma bola, porque eu recebia de costas e ele queria que eu rodasse logo para a frente. Fodeu-me a cabeça toda. Na equipa B era rei, mas ali vi que o futebol não era tão fácil como pensava. Mesmo assim, lançou-me contra o Marítimo. No aquecimento, nem sabia bem o que estava ali a fazer, estava todo nervoso. Perdi logo a primeira bola. E a segunda. Pensava só: "Fogo, Nossa Senhora, onde e que me fui meter?". Mas depois fintei um, o estádio gritou e ganhei confiança. Aos 45 minutos, ele substituiu-me. E eu fiquei a pensar que tinha acabado ali, que tinha perdido a minha oportunidade. Mas não. Na jornada seguinte, entrei contra o Gil Vicente e fiz o meu primeiro golo. O Jesualdo foi muito importante na minha carreira. Vejo-o como um segundo pai. Ensinou-me muito e não sei onde estava agora se não fosse ele.
Foi dispensado do Benfica: "Fiquei triste, mas eu era sportinguista e percebi que há males que vêm por bem"
No verão de 2013, a sua transferência para o Galatasaray foi muito polémica. O que aconteceu?
Acho que as pessoas perceberam mal as coisas. Eu tinha mais um ano de contrato com o Sporting, sabia que havia propostas do estrangeiro e queria experimentar outros campeonatos. O Sporting quis renovar comigo e eu pedi condições que não me foram dadas. Mas não era o contrato milionário que falaram, nada disso, era um pouco mais do que ganhava. Eles acharam que não devia ganhar isso, queriam aumentar-me uma coisa insignificante [Catió Baldé diz que a proposta do Sporting era de 7 mil euros mensais contra os 1,5 milhões por ano propostos pelo Galatasaray]. E eu exigi sair com a condição de que o Sporting ganhasse bom dinheiro com a minha venda.
É verdade que a Juve Leo o tentou raptar?Não. O que aconteceu foi que um grupo de adeptos quis falar comigo mas eu pensei que queriam fazer-me mal. Não sabia quem eram. Eles foram atrás de mim, eu assustei-me, peguei no carro e fui-me embora. Tive medo.
Foi o período mais difícil da sua carreira?Sim. Até tive de me esconder em Espanha com medo. Andava todo maluco.
E o que fez aí?Durante três meses, tive o acompanhamento específico do professor Rui Oliveira, que trabalhou comigo secretamente a minha postura corporal, equilíbrio nas corridas, velocidade. Foi muito importante na minha melhoria enquanto jogador.
É verdade que a Juve Leo o tentou raptar?Não. O que aconteceu foi que um grupo de adeptos quis falar comigo mas eu pensei que queriam fazer-me mal. Não sabia quem eram. Eles foram atrás de mim, eu assustei-me, peguei no carro e fui-me embora. Tive medo.
Foi o período mais difícil da sua carreira?Sim. Até tive de me esconder em Espanha com medo. Andava todo maluco.
E o que fez aí?Durante três meses, tive o acompanhamento específico do professor Rui Oliveira, que trabalhou comigo secretamente a minha postura corporal, equilíbrio nas corridas, velocidade. Foi muito importante na minha melhoria enquanto jogador.
A fuga para Espanha: "Um grupo de adeptos [da Juve Leo] quis falar comigo e pensei que iam fazer-me mal"
Deve ter-lhe dado jeito na sua chegada ao Galatasaray...
Quando cheguei ao Galatasaray, estavam lá o Wesley Sneijder e o Didier Drogba, craques com nome. Aí foi o Drogba que me ajudou muito. No fim dos treinos, puxava-me para treinar a finalização. De pé esquerdo, de pé direito. Para ele era fácil, para mim era complicado. Nem conseguia levantar a bola, pá!
O que gostou mais e menos em Istambul?Istambul é uma cidade demasiado grande. Mas é top para se viver. O que gostava mais era dos kebabs. São muito bons. E também visitar a Mesquita Azul. Fui lá duas vezes. Sou cristão, rezo muito, mas em casa do Catió vivi um ambiente muçulmano e respeito. O pior era o tráfego. Vivia a 10 minutos dos treinos e às vezes demorava duas horas a chegar. Fico nervoso no trânsito.
Nada deve ter sido pior do que a grave lesão no joelho...É verdade. Quando cheguei estava feliz mas logo num dos primeiros jogos tive aquele azar e estive seis meses e meio parado. Na altura, desanimei, mas hoje sei que essa lesão me tornou mais forte, fisicamente e mentalmente. Eu tinha de regressar ainda melhor, pus isso na cabeça e recuperei bem.
No Galatasaray ganhava bem. Foi aí que começou a enviar dinheiro para casa?Não, muito antes. A primeira vez foi quando assinei o contrato de formação com o Sporting. Ganhava 250 euros e enviava 150 à minha mãe. Isso é muito dinheiro na Guiné. Hoje continuo a ajudar a minha mãe e os meus irmãos. Consegui comprar-lhes uma boa casa nos arredores de Bissau. Por causa da minha carreira, a vida deles mudou muito, graças a Deus.
Que papel tem na sua vida o seu empresário Catió Baldé?O Catió não é o meu empresário, é como se fosse meu pai. Ocupou essa posição, é o responsável pela minha educação, eu falo-lhe de tudo e ele fala tudo para mim. Foi ele que me fez sentir em casa sempre que mudei de país. Por exemplo, eu vivi sempre com o meu amigo Du, que conheci em Lisboa. Sempre que me mudo, ele vem comigo. O Catió não deixa que me falte nada, recebo sempre a visita dele, da minha família e dos meus amigos. Isso é fundamental para um jovem jogador que vai para fora, entende?
O que gostou mais e menos em Istambul?Istambul é uma cidade demasiado grande. Mas é top para se viver. O que gostava mais era dos kebabs. São muito bons. E também visitar a Mesquita Azul. Fui lá duas vezes. Sou cristão, rezo muito, mas em casa do Catió vivi um ambiente muçulmano e respeito. O pior era o tráfego. Vivia a 10 minutos dos treinos e às vezes demorava duas horas a chegar. Fico nervoso no trânsito.
Nada deve ter sido pior do que a grave lesão no joelho...É verdade. Quando cheguei estava feliz mas logo num dos primeiros jogos tive aquele azar e estive seis meses e meio parado. Na altura, desanimei, mas hoje sei que essa lesão me tornou mais forte, fisicamente e mentalmente. Eu tinha de regressar ainda melhor, pus isso na cabeça e recuperei bem.
No Galatasaray ganhava bem. Foi aí que começou a enviar dinheiro para casa?Não, muito antes. A primeira vez foi quando assinei o contrato de formação com o Sporting. Ganhava 250 euros e enviava 150 à minha mãe. Isso é muito dinheiro na Guiné. Hoje continuo a ajudar a minha mãe e os meus irmãos. Consegui comprar-lhes uma boa casa nos arredores de Bissau. Por causa da minha carreira, a vida deles mudou muito, graças a Deus.
Que papel tem na sua vida o seu empresário Catió Baldé?O Catió não é o meu empresário, é como se fosse meu pai. Ocupou essa posição, é o responsável pela minha educação, eu falo-lhe de tudo e ele fala tudo para mim. Foi ele que me fez sentir em casa sempre que mudei de país. Por exemplo, eu vivi sempre com o meu amigo Du, que conheci em Lisboa. Sempre que me mudo, ele vem comigo. O Catió não deixa que me falte nada, recebo sempre a visita dele, da minha família e dos meus amigos. Isso é fundamental para um jovem jogador que vai para fora, entende?
Com o empresário Catió Baldé, quando assinou pela Real Sociedad: "O Catió é como se fosse meu pai. Foi ele que me fez sentir em casa"
Foi emprestado pelo Galatasaray à Real Sociedad. Gostou da experiência em Espanha?
Muito. Vinha da lesão e queria jogar mais. Então, pedi para ser emprestado, entende? A Real Sociedad é um bom clube. No primeiro dia que chegas, já sabes que estás em casa, pá. Desde os massagistas aos jogadores, falam logo todos contigo. Tive o melhor capitão: o Xabi Prieto. Dá para falar com ele de tudo, coisas de fora e de dentro de campo, ajuda sempre. E em San Sebastian dava para ir a Portugal nas folgas, dar umas voltas com os amigos em Madrid...
Essa é fácil. Foi o golo que marquei ao Real Madrid, no Santiago Bernabéu. Mesmo dos que eu gosto: da linha para o meio e logo batata com força lá para dentro. Recebi muitas mensagens de pessoas a darem-me força e os parabéns.
Qual o seu objectivo para os próximos tempos?
Jogar aqui no Leipzig e lutar pelo campeonato. Sei que só jogando aqui posso ter hipóteses de representar regularmente a selecção.
Qual o seu jogador de referência?
O Cristiano Ronaldo. Cresci a acompanhar a evolução dele e sinto-me inspirado pela história de um menino pobre que deixou os pais e se mudou com 13 anos para Lisboa para ser quem é hoje.
Guinendade/Desporto
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