domingo, 7 de outubro de 2018
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OPINIÃO: : GUINÉ-BISSAU: CONTRADIÇÕES ENTRE VALORES DE USO E VALORES DE TROCA DE NOTÍCIAS
O jornalismo está confrontado na GuinéBissau com as profundas contradições entre os valores de uso e os valores de troca da mercadoria notícia. Assistimos assim, na esfera de produção de conteúdos de notícias de qualidade para o consumo, a um enorme desafio para a nova geração de jornalistas que os Media pretendem ter para poder exigir uma prestação pública de contas nas democracias representativas.
Os jovens jornalistas são, assim, desafiados a construir a sua credibilidade social e profissional na produção de notícias a partir dos valores dos cidadãos e da democracia, tendo em consideração o direito dos guineenses ao acesso a uma informação de qualidade na esfera pública. Pois devem assumir hoje, nas sociedades de dispositivos tecnológicos simbólicos de mediação, que as notícias que produzem são produto relevante para a contemporaneidade democrática da Guiné-Bissau. O jornalismo na Guiné-Bissau não pode nem dever ser sempre uma atividade eminentemente política entregue às bocas alugadas e a jovens ativistas políticos que só olham para os valores de troca de mercadoria notícia, mais do que os valores de uso social de uma notícia.
É preciso preparar dentre a nova geração de jornalistas nacionais, profissionais que tenham a noção da dimensão da sua responsabilidade social no exercicio das suas atividades de produção de notícias de qualidade para o consumo na nossa esfera pública e no nosso país. A organização e estruturação da classe jornalística na Guiné-Bissau é uma das condições essenciais para o estabelecimento, na nossa esfera pública, dos “Meios de Assegurar a Responsabilidade Social dos Media” e dos jovens jornalistas.
A responsabilidade social será a base da prática de um jornalismo ético, em que os jornalistas prestarão contas das suas atividades ao público. Assim, é necessário e urgente o estabelecimento das Instâncias Internas nos órgãos de Comunicação Social como um Curriculum de Deontologia Profissional e das Boas Práticas de jornalismo. Porque essas ferramentas de auto-regulação de produção de notícias dinamizarão e consolidarão a profissionalização dos jovens jornalistas e dos órgãos de Comunicação Social. Por outro lado, reforçarão e garantirão aos jovens jornalistas guineenses o acesso às fontes de informações públicas para a produção de conteúdos noticiosos.
A viver e a trabalhar num cenário de uma ausência quase total dos instrumentos de sanção moral, os jovens jornalistas guineenses devem repensar o melhor caminho de estabelecer os mecanismos de auto-regulação que levarão os cidadãos nacionais a terem a noção de que os meios de Comunicação Social têm um papel incontornável na responsabilidade social pública. Porque as Instâncias Internas como instrumentos de auto-regulação de conteúdo noticioso devem levar aos jovens jornalistas da Guiné-Bissau a: “I) respeitar princípios e valores éticos básicos, II) adoptar padrões e práticas profissionais exigentes e III) prestar contas à sociedade por aquilo que fazem ou não fazem”.
O melhor caminho é a aceitação da implementação das Instâncias Internas nos órgãos de Comunicação Social nacional, como normas de orientação de comportamentos de atuação profissional dos jovens jornalistas na Guiné-Bissau. Mas, infelizmente as Instâncias Internas como pilares de auto-regulação do jornalismo na Guiné-Bissau são muito escassas e inexistentes em alguns órgãos de Comunicação Social. Tudo porque o jornalismo nacional foi profundamente marcado por duas décadas de regimes de partido único que vigorou no país depois da independência, em 1974, até à abertura ao multipartidarismo em 1994.
A responsabilidade social dos órgãos de Comunicação Social nacional deve corresponder a um maior nível de credibilidade dos jovens jornalistas na defesa e na promoção dos interesses públicos. Porque se houver um aumento da desconfiança em relação a responsabilidade dos jovens jornalistas, haverá uma fraca participação dos cidadãos nas atividades de interesse público. Infelizmente, na Guiné-Bissau, existe uma enorme desconfiança em relação a responsabilidade dos “Jovens Activistas Políticos” e das “Bocas Alugadas” na produção de conteúdos jornalístico para o consumo dos cidadãos.
Porque não conhecem bem a Lei da Imprensa, da Rádio e da Televisão que existem no país. Por outro lado, o Código Deontológico dos Jornalistas da Guiné-Bissau criado, em 2017, ainda não foi aprovado pela ANP nem pelo Conselho dos Ministros para poder ser aplicado no exercício das actividades jornalísticas. Aliás, diga-se em boa verdade, a própria classe jornalística não conhece ainda muito bem o novo código Deontológico. A maioria dos Órgãos de Comunicação Social da Guiné-Bissau não tem Livro de Estilos, Manual de Redacções do Jornalismo Online, Conselhos de Redacção, Estatutos Editoriais e uma Agenda-Mínima.
No país não existe também um critério bem definido para o acesso à profissão do jornalismo nem a lei da atribuição de Carteira Profissional e um Conselho ÉticoDeontológico. Muitos dos jovens que ingressaram na profissão são amigos de Diretores ou familiares dos proprietários dos órgãos de Comunicação Social. Por isso, transformam-se facilmente em “Activistas Políticos” que trabalham de acordo com os interesses económicos e empresariais dos gestores ou dos proprietários das empresas de Comunicação Social. O que facilita a censura que ainda hoje fustiga a imprensa na Guiné-Bissau. Assim sendo, a implementação das Instâncias Internas como instrumentos de autoregulação nos órgãos de Comunicação Social na Guiné-Bissau ajudaria os jovens jornalistas a não vacilar no exercício das suas actividades profissionais, porque a sua agenda-mínima estaria muito bem definida.
Os gestores de órgãos de Comunicação Social e os seus editores teriam peso formal relativo em relação aos jornalistas. O que os permitiriam compreender e aprofundar “o porque e como” de um acontecimento noticioso na produção de conteúdo jornalístico. Na Guiné-Bissau, a agenda-mínima é um dos instrumentos fundamentais de autoregulação de produção de conteúdo jornalístico. Porque as suas exigências de três perspetivas (ângulos) como condições de definição de interesses públicos permitiriam aos jovens jornalistas a busca da verdade e da objectividade, assumindo claramente a distinção entre fatos e opiniões. Por outro lado, a função da agenda-mínima permitiria aos jornalistas recolher informações credíveis junto das fontes e oferecerlhes também as condições necessárias para transformar os factos em notícias de qualidade para o consumo humano.
Por: António Nhaga
Odemocrata
Legal. Tudo e a questao de idoneadade e sentido do profissionalismo e responsabilidade.
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