Professor Marcelo Rebelo de Sousa (agora presidente da República de Portugal) quando fazia abertura do ano lectivo no ISCTE (onde se fez também homenagem ao histórico professor Adriano Moreira), abriu o seu discurso dizendo o seguinte: “ninguém tem o direito de matar a esperança de ninguém”. Esta colocação não estava vazia e tinha uma intenção de comunicação profunda dispensando uma simples retórica. Eu diria agora que sim, ninguém tem o tal direito, muito menos os malcriados de Bissau. A História da humanidade nos ensina e tem ensinado que o nosso mundo é imprevisível – para o bem e para o mal.
Hitler convenceu Stalin de que acordo tripartite (assinado em 1939) era apenas para demolir o império britânico e manter os EUA fora da guerra na Europa e, depois manter o acordo secreto com a Rússia, Stalin chegou a discursar dizendo que URSS e Alemanha estariam juntos para o que der e vier. Por ironia do destino, quando Hitler queria tudo e um pouco mais, incluindo invadir à URSS, o cenário se inverteu, no final à URSS foi a condição sine quo non para fim da aventura tola de Hitler. O que sabemos sobre amanhã, é que apenas imprevisível vai-se manter. Francis Fukuyama chegou a eleger queda de “Muro de Berlim” como fim da história, deduzindo de que o mundo havia encerrado a mais difícil questão da História da segunda metade do Século XX. Bem longe, Fykuyama podia-se imaginar que o terrorismo seria um outro truculento questão do nosso tempo, como chegou-lhe rebater Carlos Lopes (ex-ONU)- “(…) pela infelicidade de Fukuyama, a História não acabou”.
Tendo compreendido as curvas imprevisíveis do nosso tempo, podemos admitir que, apesar de Guiné-Bissau ser um assunto irritante para as Relações Internacionais e desgastante para os guineenses, nem tudo está perdido, há sempre uma luz verde! Uma ES-PE-RAN-ÇA. 44 anos sem um governo indicado por Portugal (independência), com a bandeira própria e um hino nacional (soberania assegurada), ainda é um país à deriva, frágil, sem capacidade ou condições para se lançar a nada, ipso facto não pode se lançar de facto a nada nestas condições.
As incontáveis eleições não resolveram muita coisa. Talvez fosse um caso de estudo para Monografia, compreender como foi possível e através de que mecanismos na Guiné-Bissau nenhum presidente chegou a atingir o seu tempo normal de mandato – golpes e contragolpes se confundem com levantes e insurreições – Guiné-Bissau é um protótipo de imprevisibilidade (ora de nkadja ka tem) institucional. Tem problemas que aparentemente muitos países já superaram e estão superando. Em seus hospitais (se é que tem muitos!), pacientes ‘encantoados’ e ‘amontoados’ numa cama e mulheres grávidas sem condições de assistência decente ainda é um problema. Pede-se junta médica para patologias mais triviais. Cenário de um Estado falido e sem eficácia. Para quando a eficiência? Somos um exemplo claro de um possível Estado falhado, agora sim acabei por ter que aceitar que somos um típico de Estado falhado, o meu ilustre e Dr. professor de Ciências Políticas da Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira), Ricardo Ossagô, assim ficaremos até que me encontre um conceito que caiba melhor à Guiné (eu já recusei este termo). Estou perante o texto mais emotivo da minha autoria, não me pretendo académico. Mas como sempre digo, é bom sempre aprender com a História dos povos – Nação Servia, (pesquisem!).
Toda esta realidade não deve ser desassociada da nossa gloria epopeia. Quando refiro-me ao nosso passado, quero colocar o seguinte: Toda odisseia tem um início/começo, e sempre que as coisas desandam, é preciso olhar para trás e tentar ver/tirar lições possíveis e etc. Mas não quero me ajuntar àqueles que julgam ser erros do presente personagens do passado (kê Cabral tam cu sinanu cuma depois de guerra pa ninguim ka rispita ninguim?). É preciso que tenhamos a coragem de assumirmos enquanto atores do nosso tempo. Muitas vezes a História é apenas um subterfúgio. O prelúdio da nossa construção enquanto “nação” foi sim bem pensado, não tem como não acreditar que com Cabral Guiné seria outra coisa, a poética conversa dele com Basil Davinson parece canto dos salmos nas matas de Uatu fula (Bolama). Eram palavras de quem tinha uma certeza no devir. Preciso debater a nossa história para corrigir, onde estava a mulher na luta e onde está a mulher hoje, o que ensino para Cabral e o que é ensino para os que governa a Guiné-Bissau hoje? Quem não sabe a História, uma pedra é apenas uma pedra.
Decidi escrever esse texto, pois julguei ser importante, apesar de tudo não perder a esperança. A esperança que outrora animou as mulheres de Sul da Guiné durante toda odisseia libertária, a esperança que animou os antigos combatentes durante os 11 anos da guerra, é preciso que acreditemos que ainda é possível, sim, fazer uma Guiné bonita, forte, desenvolvida e com progresso. A persistente crise é demolidor, admito, irrompeu as mais ensejadas relações entre a família guineense, criou uma crispação nacional e polarização aguda entre os filhos de Cabral. Por isso venho dizer – TEMOS QUE TER ESPERANÇA, PELO MENOS. Perante a inexistência dum dicionário possível entre os Atores políticos guineenses, perante o desregramento geral das normas mais latentes e óbvias, perante o empobrecimento da política, só resta ter a fé e esperança.
Parece que acabou a Guiné-Bissau, mas, os guineenses resistem, mesmo contra tudo e estando numa nítida queda livre – não há debate sobre educação, sobre ensino, sobre a equidade entre homens e mulheres, sobre plano e políticas de desenvolvimento, sobre plano estratégico [investimento na formação de base e nas camadas juvenis] duma seleção nacional de futebol com padrão FIFA. É uma sociedade ao inverso a tudo que é ético e educativo. Recentemente, alguém (músico) editou um álbum com 40% de letras ofensiva às mulheres, encheu Estádio nacional 24 de Setembro, ao passo que palestra de Carlos Lopes teve sala relaxada. Tudo merece uma especial atenção. Estamos mal. É uma sociedade acotrobidó. Normalização do anormal. Missa na rua, blufundadi son. Mas tenhamos a fé.
Maioria dos nossos políticos não estão preparados. Mas, como coloquei, mesmo com isso tudo, é preciso acreditar. Mesmo sabendo que andamos à margem do progresso, precisamos ter algo de positivo – ACREDITAR. Os irmãos de Timor Leste, mesmo durante o brutal ataque ao cemitério de Santa Cruz, que deixou Timor em luto, souberam manter as luzes da esperança acesa. Não tem como olharmos nos olhos e garra das Mariamas, Quintas, Teresas, Marias de mercado de Bandim e não acreditar no amanhã.
Nações como Timor-leste e Ruanda são exemplos claros e práticos. É preciso que, saídos desta lamaçal, possamos encontrar governantes a altura dos desafios impostos pelas novas realidades. As agendas internacionais parecem ser incompatíveis com os modus operandis governamental guineense.
Que nenhum guineense desista! Resistência, coragem e perseverança, como fora durante os idos anos 60, realidade retratada através de músicas de Nfámara Mané e José Carlos – um antídoto para dor da guerra e mágoa de colono. Tenhamos a esperança ika tem quinti cu cata fria.
“Não vamos perder por esperar”, defende o compatriota, Carlos Lopes
GUINENDADE-ODEMOCRATA
Por: Tamilton Teixeira
Estudante de sociologia
UNILAB Ceara/ Brasil
MBOM, COM "BLUFUS" SUMA JOSÉ MÁRIO VAZ MAIS OS 15 DJANKADINS É DIFÍCIL TER A ESPERANÇA E MUITO MENOS A FÉ!!!
ResponderEliminarSE QUEREMOS RENOVAR A NOSSA ESPERANÇA E FÉ NUMA GUINÉ-BISSAU MELHOR, ENTÃO VAMOS CHAMAR E ELEGER CARLOS LOPES COMO PRESIDENTE DA REPÚBLICA NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS, PONTO!!!