"Acho que falta vontade política, falta coragem à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), efetivamente. A CPLP não está a querer desafiar outras organizações da sub-região, que em termos estratégicos invocam que estão mais bem colocados para mediar a crise na Guiné, o que não corresponde à verdade. Falta coragem. Acho que têm medo de ser esmagados pelas potências dos países da sub-região" [Senegal e Nigéria], considerou o ativista à agência Lusa.
Canté, que falava à margem de um debate sobre a Guiné-Bissau no Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, criticou ainda o "papel muito 'pequenino' da CPLP" [na questão da Guiné-Bissau] em comparação com a posição de força da CEDEAO (da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental).
"Poderia jogar um papel muito mais ativo. A CEDEAO tem assumido o protagonismo, mas nós identificamo-nos mais com a CPLP. Ainda que não tivesse um papel ativo, como mediador principal, poderia apoiar a CEDEAO a compreender melhor a nossa realidade", salientou Sana Canté.
O dirigente do MCCI - que tem organizado as principais manifestações em Bissau, exigindo a demissão do Presidente José Mário Vaz - criticou ainda a posição da máxima responsável da CPLP, a são-tomense Maria do Carmo Silveira, que no início de maio esteve em visita oficial à Guiné-Bissau.
"Falta coragem. Na última vez que esteve em Bissau, a secretária-executiva da CPLP passou a mensagem de que os guineenses poderiam perfeitamente resolver os seus problemas e que deveriam ser os guineenses a resolver os seus problemas", recordou Sana Canté.
"Nós entendemos que essa declaração é ofensiva, porque é justamente isso que os guineenses têm vindo a fazer. Se a CPLP quer ajudar tem que acrescentar alguma coisa: Pressão sobre o Presidente porque é evidente para todos que é ele o principal responsável por esta crise", disse.
A CPLP, concluiu, "tem de ter a coragem de chamar o Presidente à razão".
"Se o fazem secretamente deveriam também tornar essa posição pública", realçou o ativista.
A Guiné-Bissau atravessa um impasse político, que teve início há cerca de dois anos com a demissão de Domingos Simões Pereira do cargo de primeiro-ministro.
Após o Presidente ter demitido Domingos Simões Pereira, a Guiné-Bissau teve mais quatro primeiros-ministros (um dos quais nomeado duas vezes).
A crise política na Guiné-Bissau levou à intervenção da CEDEAO - incluindo com uma força militar - e ao estabelecimento do Acordo de Conacri, que continua sem ser aplicado no país, apesar de a organização ter admitido a imposição de sanções a quem criasse obstáculos à sua execução.
Guinendade/Lusa
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