Hoje quarta-feira
07 de Junho 2017 marca quase duas décadas do arrebentar da guerra civil que
assolou a Guiné-Bissau em 1998. Depois de quase 20 anos serà que Guineenses
fizeram introspeção para analysar o porquê desta guerra ? E sobretudo
para que um tal suicídio coletivo inter e intrageracional não volta
acontecer ?
A resposta a
primeira pergunta não se encontra no prisma da culpa ou da razão dos
protagonistas daquele conflito. Na realidade as origens daquela violência
coletiva encontram-se numa conjunção de factos historicos, politicos, economico
e sociais.
Historicos, porque a queda do muro de Berlim (1989) que
marcou o fim da ideologia comunista fez com que a Guiné perdeu os principais
apoios nas aéreas sociais oriundo dos Paises do Pacto de Varsovia, que era uma
aliança militar e economica entre União Sovietica, Paises de Leste e Cuba. A
escassez destes apoios sociais cortou o cordão omblical entre o PAIGC e o seu
braço armado as Forças Armadas Revolucionaria do Povo (FARP), criando um mal
estar entre os militares e os civis do aparelho do Partido Estado, o PAIGC. O
imperativo de reformar a Guiné fez-se sentir. Foi nesta perspectiva que uma
parte dos quadros valiosos dito « Grupo de 121 » escreveu uma carta a
Direcção do PAIGC en 1992 para pedir reformas no Partido e no Estado.
Infelizmente a cupula do PAIGC não seguiu as propostas de reforma do
« Grupo de 121 ».
As
consequências de não reformar foram duas. A primeira foi a saida do PAIGC de
uma grande parte de muitos bons quadros que foram criar partidos politicos como
União para Mudança, Frente Democratica, Partido para Convergencia Democratico,
Frente Democratica Social, Partido de Renovação Social. A segunda foi o
enfraquecemento qualitativo do PAIGC na sua capacidade administrativa de
governar e na sua anticipaçao da evoluçao social da Guiné, no seu
posicionamento estratégico na qualidade de Partido historico e o pior, a
assenção da mediocridade nas suas instancias decisionais.
Politicos, porque com o pedaçamento do PAIGC, o principal adversario do PAIGC
deixou de ser os partidos da oposição recém criados, mais o PAIGC em si mesmo
com as lutas intestinas entre as diferentes fações que tentam posicionarem-se
para colmatar o espaço deixado pelos quadros que foram criar partidos
politicos. Esta dinâmica apagou a união feita em torno da procura do objectivo
, do bem comum e da pessoa do Nino Vieira que fazia a sintese entre a ala
militar e a ala civil do PAIGC. Ai a mediocridade instalou-se. As alianças eram
construidas a volta de parentasco, do grupo de interesses ate
eclodir a a primeira crise post-eleitoral quando pessoas no seio do PAIGC não
queriam Manuel Saturnino Costa como Primeiro Ministro por razões obvios de
carência academica.
Economico e Sociais, porque no fim de 1988 a Guiné estava
sob o Programa de reajustamento estrutural do Fundo Monetario Internacional, um
corpo de medidas economicas de inspiração liberal aplicada a economia em
dificuldade que impõe ao Estado uma stricta disciplina orçamental com uma
reorientação das despesas pùblicas para sectores economicos produtivos ao
detrimento dos cuidados medicos de base, da educação primaria e dos
investimentos nas infraestruturas sociais. Num País pobre e fraco como a Guiné essas
medidas quebram o Pacto Social, repõe em causa a ideologia e o mito da fundação
da Nação ou seja apagam o « viver junto » do discurso cabralista que
jà tinha sido esquecido desde do golpe de Estado de 14 novembro de 1980 com
Luis Cabral.
Essas conjunções
de factos historicos, politicos, economicos e sociais fazem com que a Guiné
moderna e inclusivel têm que ser repensada e reiventada. Mas para tal é preciso
combater o principal factor que fez com que os dirigentes do Pais naquela
altura e ainda hoje não soubem reagir a desafio da modernidade, proprio a
evolução da vida das Nações. Esse factor chama-se a ignorância e seu vertente
técnico a incompetência.
A única e
duradoura solução para evitar uma outra guerra civil passa pela entrega a Guiné
a pessoas educadas e competentes. Estou falar de pessoas ao plural porque o
mito do Chefe omnipotente que saiba e pode tudo sobre tudo é ultrapassado. E
pessoas que façam funcionar as nossas Instituições e a nossa Economia na base
de legalidade. Que tenham discurso construtivo e inclusivo com comportamento idôneo e com alto grau de ética sem ter suspeita de crime de sangue. Que não
vejam a Guiné como uma vaca leiteira a ser « mamada » ou como um troféu de guerra a ser desmembrado para os que tiveram sucesso politico sem ter
sucesso econômico e social antes de abraçar a politica.
I só assim ku
Guinenses na pudi sinti confianti di fala di alta voz « 07 di Junho, nunca
mas ! ».
PT
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