Muito me questiono sobre os reais valores da vida, aqueles que
realmente valem a nossa luta, nosso suor, aqueles que ao protegê-los
valem para sempre, e que ninguém, por mais que queiram roubá-los de
você, não conseguirão. Vejo no dia a dia muitas e muitas pessoas focadas
ou, na verdade, desfocadas nesta busca. Para a grande maioria, a
compreensão desta questão está longe de ser razoavelmente compreendida.
Quando jovem, me pareceu eficiente e lógico perceber que a base dos
meus valores morais e éticos é que sustentariam alguma conquista sólida
em minha vida. Somente a percepção destes valores abririam minhas
primeiras portas, já que, quando jovem não temos muito a entregar a não
ser muita dedicação, garra, determinação e principalmente vontade, muita
vontade.
Neste modelo de busca a definição de tempo para as conquistas se
mostraram frustrantes, mas o entendimento do caminho me parecia o
correto. Sendo assim, deixei de lado os prazos e me concentrei na crença
do modelo escolhido. Confesso que os resultados demoraram a aparecer,
muitas vezes os questionamentos sobre a escolha provocaram fortes
reflexões. Ao meu redor, muitos já disparavam na corrida da vida e,
assim, cada dia era mais difícil manter-se no caminho acreditado.
Aos poucos, bem aos poucos, comecei a receber retorno, mas nada
palpável, nada físico: estes retornos eram assimilados por percepções
muito subjetivas e que eram difíceis de explicá-las. Elas eram muito
íntimas, muito sutis, mas eram suficientes para que eu acreditasse que
ali estava realmente o meu caminho.
Por diversos anos e vezes fui questionado se daquela forma realmente
eu chegaria a alcançar a conquista de meus sonhos que nunca foram
pequenos. Em silêncio, junto aos meus pensamentos, respondia que ali
vivia a minha felicidade diária, ali existia o poço interminável de
minha motivação, matéria-prima de minhas vontades e disposição. Por anos
os resultados não apareciam de maneira concreta, mas a crença em meus
propósitos de harmonia, felicidade e amor eram suficientes para minha
sobrevivência. Lembro-me das inúmeras vezes em que pedi a Deus a graça
de me sustentar vivo em minha experiência empreendedora, entendia que a
simples sobrevivência já era motivo de muita alegria e conquista,
entendia que a grande oportunidade estava na possibilidade de percorrer
as vielas do aprendizado e das experiências que se trasnformavam
diariamente em perspectivas, muita delas em forma de fumaça mas
suficientes para manter minhas crenças vivas.
Para não sofrer com as conquistas e perdas dos recursos, que foram
sempre presentes, transformei em minhas as definições de valor dinheiro
em valor meio. Portanto, ora tínhamos mais meios, ora tínhamos menos
meios para fazer as coisas necessárias que dependiam dos recursos.
Porém, algo era muito certo, a conquista dos reais valores estavam com o
caixa em alta. A verdade, a responsabilidade, a confiança, a
resiliência, a persistência, a garra sempre estavam sendo alimentadas e
fortificadas.
Por ter perdido precocemente meu pai biológico e logo após meu maior
incentivador e apoio, iniciei uma busca voltada na estruturação de
pilares sólidos. Sabia que estava só, e ao olhar para os lados e para
trás, nada mais existia para me apoiar, eram somente eu e minha esposa,
diante do mundo. Com pensamentos comuns e valores muito alinhados,
enfrentamos o que a vida havia preparado como barreiras. Vivemos com
foco em nossos valores e assim fomos construindo algo sólido a nossa
volta.
Neste semana proferi uma palestra a profissionais da área comercial
de uma grande editora e, como de costume, me emocionei ao colocá-los
diante de uma indagação que procuro me fazer com muita frequência:
O que você está fazendo hoje, vale a sua luta?
Diante deste momento o silêncio tomou a sala como um grande vazio.
Muitas vezes nossas lutas estão relacionadas a questões muito profundas
de nossas vidas. Não lutamos por nossos chefes. Não lutamos por nossos
empregadores. Lutamos por aquilo que realmente damos valor. Lutamos pela
cura de nossas dores, lutamos por nossos filhos, familiares, lutamos
por nossas crenças e propósitos. Lutamos por nossos reais valores.
Nossos dias nos massacram, nos desviam de nossas reais buscas, somos
infelizmente teleguiados, fazemos mecanicamente tudo o que todos fazem,
pensamos pouco, temos medo da exposição de nossos sentimentos mais
profundos. Deixamos nos enganar por buscas equivocadas, nos
desequilibramos com facilidade e muitas vezes perdemos valores que não
gostaríamos.
Em desavenças corriqueiras, deixamos pessoas chateadas, tristes,
enganadas e, muitas vezes, nos sentimos pequenos, e estes sentimentos
dóem na alma. Palavras duras, olhares tortos, caras fechadas,
resistências desnecessárias, reações do ego doente que muitas vezes
magoam mais a nós que aos que objetivamos.
Dê valor aos seus verdadeiros valores, alimente-os com o exercício do
amor e da solidariedade, ajude despretenciosamente, doe sem esperar
algo em troca, silencie as agressões, dê crédito às razões alheias,
antecipe a paz, afague os corações. Ao invés de sentir-se arrependido,
sinta-se orgulhoso por seus atos.
Dê sentido real à sua luta e enriqueça os seus verdadeiros valores.
Laurindo Carvalho
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