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quarta-feira, 8 de março de 2017

OPINIÃO: PARABÉNS A MULHER AFRICANA

África ocupa novamente um lugar importante na agenda global, mas desta vez pelos motivos certos. Com o aproximar do início do Mundial na África do Sul, as pessoas estão a ver não apenas a África do Sul mas todo o nosso continente como parceiros em igualdade de circunstâncias nesta extraordinária celebração global.

Assim, com os olhos do mundo voltados para África, devemos aproveitar esta oportunidade para mostrar o importante papel que as mulheres africanas estão a desempenhar de forma crescente no sucesso deste continente. 

A eleição de Ellen Johnson-Sirleaf como Presidente da Libéria, a primeira mulher eleita para governar um país africano, simboliza o progresso das mulheres no continente. Orgulhamo-nos igualmente do facto de as mulheres constituírem mais de 50% dos deputados no Ruanda - a proporção mais elevada no mundo. A África do Sul e o Lesoto são apenas outros dois países africanos que ocupam um lugar perto do topo da tabela da liga de igualdade entre os sexos.
São também as mulheres que estão a ajudar a acalmar as tensões e a sarar as terríveis feridas sofridas por África, causadas por conflitos e violência. As mulheres estão a liderar em termos de resolução de conflitos, reconciliação e elaboração do enquadramento jurídico e constitucional para garantir a paz e prevenir abusos. 

Nos media, na sociedade civil, e em comunidades de todo o continente africano, as mulheres estão a assumir responsabilidades muito importantes. Há ainda muito a fazer, mas as mulheres estão a vencer a luta para que sejam ouvidas e para ajudarem a criar soluções e traçar prioridades.
O fosso entre os sexos continua a ser uma preocupação. África ainda está atrasada em relação a muitas partes do mundo em termos de educação de raparigas desde a escola primária até à universidade. Mas há, agora, muitas mais raparigas a frequentar e a completar os seus estudos do que há uma década. 

A instrução é a base do progresso, e as mulheres instruídas fortalecerão África. Devemos, assim, concentrar-nos agora nos países que não colmatam este fosso. Os governos precisam de implementar estratégias adequadas e encontrar os recursos e a vontade política para que sejam bem-sucedidos. Um dos principais problemas destacados no Relatório do Progresso Africano, acabado de ser publicado, elaborado pelo Painel de Progresso Africano (African Progress Panel), é o contraste entre os planos e a mudança no terreno. 

Outra área onde verificamos pouco progresso diz respeito ao aproveitamento de todos os talentos e potencial das mulheres na economia formal. A contribuição económica das mulheres é, obviamente, subestimada em muitos lugares do mundo. Onde quer que vivam, as mulheres enfrentam maiores obstáculos e frustrações do que os seus homólogos masculinos. 

Mas em África tal é particularmente verdade - um continente onde até o visitante mais desatento poderá constatar o papel fundamental que as mulheres desempenham na economia. Reparem nos nossos campos. São mulheres que verão a plantar e a colher as culturas. Reparem nos nossos mercados. São mulheres que verão a comprar e a vender os produtos em oferta. As mulheres estão também a estabelecer as pequenas empresas que estão a criar empregos e a propagar prosperidade.
As mulheres são realmente os motores das economias africanas. No entanto, em cada curva, a importância das suas contribuições é minimizada e colocam-se obstáculos às suas ambições. As mulheres são excluídas de sessões de formação e não recebem apoio. E podem enfrentar discriminação por parte das autoridades e fornecedores. 

Mas é no tratamento das mulheres, deliberada e acidentalmente, por parte do sector financeiro que se causam os maiores danos. As mulheres recebem, por exemplo, apenas 10% do crédito concedido aos pequenos agricultores e menos de 1% do total de empréstimos agrícolas. No entanto, são responsáveis pela produção de 80% da comida do nosso continente. As regras de herança que definem que a terra, e os seus rendimentos, apenas podem ser transmitidos através dos homens da família colocam as mulheres numa posição de terrível desvantagem.

O potencial de África, não somente para alimentar a sua população mas também para exportar comida para todo o mundo, está a ser cada vez mais e justamente reconhecido. Mas esta ambição será apenas realizada através de políticas que admitam o papel fundamental das mulheres na agricultura e que permitam que estas levem a cabo uma revolução verde no continente. 

A falta de activos detidos pelas mulheres, juntamente com normas sociais antiquadas, também é um grande obstáculo ao acesso ao capital de que precisam para criar e expandir pequenas empresas. As empresas em fase de arranque geridas por mulheres têm mais probabilidades de se tornarem empresas estabelecidas. No entanto, as mulheres controlam menos de 10% do capital disponível para investimento em novas empresas. 

A discriminação continua, apesar de provas esmagadoras mostrarem que há mais probabilidades de as mulheres investirem os empréstimos comerciais de forma inteligente e cumprirem os planos de pagamento. Mesmo os esquemas de microcrédito parecem emprestar frequentemente menos às mulheres do que aos homens nas mesmas circunstâncias. 

Estes problemas não se limitam às pequenas empresas. A Cimeira Económica da Mulher Africana, em que participei recentemente em Nairobi, ficou vivamente impressionada com a história de uma mulher que tinha criado a sua própria empresa de construção nos Camarões. As suas necessidades em termos de capital são de centenas de milhares de dólares. Contudo, ao lidar com as instituições financeiras, deparou-se com os mesmos obstáculos e atitudes antiquadas conhecidas pelas mais pequenas mulheres de negócios do continente. 

As instituições financeiras devem remover estes obstáculos permitindo, deste modo, o acesso justo e fácil aos serviços financeiros e ao capital. Para que África alcance as taxas de crescimento necessárias para cumprir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas, as mulheres devem ser totalmente trazidas para a economia formal e sector financeiro. 

Tal requer inovação nos serviços financeiros e produtos em oferta, que, por sua vez, requer que as mulheres, a nível local, regional e internacional, ajudem a formular soluções. Se os governos e as principais partes interessadas levantarem as barreiras que impedem as mulheres de desempenhar na íntegra o seu papel na nossa economia e nas sociedades, o futuro será então prometedor, não apenas para as mulheres mas para todo o nosso continente. 

Fonte: DN

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